Infelizmente, na maioria das vezes a curetagem uterina é feita em um momento delicado da vida de uma mulher: o aborto. Um aborto espontâneo pode ocorrer por diversos motivos, e algumas vezes pode ser preciso uma intervenção médica para retirar o que o corpo não eliminou sozinho. Abortos incompletos precisam de curetagem uterina, e ela precisa ser feita em um hospital por um médico ginecologista.

Para lidar com a perda que um aborto causa, ter suporte psicológico é fundamental. Por isso, recomendo buscar uma psicóloga com experiência em atendimento a tentantes.
Durante a gravidez, acontecem várias mudanças no útero1. O endométrio cresce bastante e fica grosso para acomodar o embrião em seu estágio inicial. Em alguns casos, o corpo não consegue eliminar todo o endométrio após um aborto espontâneo. Se a gravidez estiver mais avançada, há também casos em que é necessário retirar os restos de placenta. Há também casos em que o corpo não chega nem mesmo a expelir o feto, e é necessária a curetagem.

Uma curetagem não é um processo fácil, e é normal sentir medo. A situação é muito dolorosa, mas a curetagem é necessária para evitar que algo fique no útero após uma expulsão parcial2. A permanência dos restos de uma gravidez que não evoluiu pode causar infecções muito sérias. Fazer uma curetagem é desagradável, mas é mais seguro do que ter que lidar com as consequências de uma expulsão parcial.

Como é feita a curetagem uterina?

A curetagem é feita em um hospital ou maternidade, geralmente em um centro cirúrgico apropriado para o procedimento. São usados instrumentos para alargar o colo do útero e outros para fazer a limpeza em si. Os métodos mais comuns são a raspagem (o mais convencional) ou a sucção (um método mais moderno).

A paciente é submetida a uma anestesia que vai depender do seu estado físico e emocional. Na maioria dos casos é uma raquidiana. A sedação endovenosa (anestesia geral) também pode ser utilizada, porém o anestesista de plantão que decidirá qual é a melhor para cada caso. A curetagem é simples, e dependendo do estado de saúde de cada paciente a alta do hospital pode ser dentro de 12 a 24 horas.

O material coletado na curetagem será levado a análise para saber os motivos do aborto (análise anatomopalógica). Casos de aborto recorrentes são os mais indicados para uma biopsia pós-curetagem uterina. Há ainda um exame mais detalhado, chamado citogenético, cuja realização fica a critério da mulher.

A curetagem não é feita só em casos de abortos. Há outras situações em que ela é necessária, como a presença de sangramentos excessivos frequentes e dores abdominais fortes. Caso os sangramentos não parem por si só, uma curetagem pode ser indicada em casos extremos.

Muitas mulheres confundem a palavra coletagem com a curetagem. Coletagem vem de coletar e não tem ligação alguma com o ato da curetagem uterina.

Recuperação da curetagem uterina

A recuperação é relativamente simples, porém cada caso é um caso.

Curetagem após abortos de gestações de pouco tempo teoricamente tem uma recuperação mais fácil. Casos de gravidezes mais adiantadas normalmente exigem um maior tempo de recuperação. Algumas vezes é até pedido um resguardo como em um parto normal, ou seja, 40 dias.

Pós curetagem, é necessário repouso relativo, sem esforços ou relações sexuais. A recuperação deve ser plena, sem intercorrências desagradáveis. Após a curetagem, o médico pode receitar anti-inflamatórios ou antibióticos específicos para o caso.

O sangramento persiste mesmo após a curetagem, e é perfeitamente normal. Esse sangue é o término da limpeza feita pelo próprio organismo e consequência de um processo invasivo. O sangramento pós-curetagem uterina pode durar de 5 a 15 dias, dependendo do corpo de cada mulher. É recomendado consultar um médico caso o sangramento continue após esse prazo ou se houver febre, calafrios ou dores intensas na região abdominal. Nestes casos é necessário avaliar o que pode estar havendo.

Engravidar após a curetagem é uma pergunta recorrente3. Deve-se levar em consideração que não é uma situação tão comum e deve ser avaliada pelo médico. Em geral, o prazo recomendado antes de tentar novamente é de cerca de três meses. Já em casos de abortos com a gravidez mais avançada, o prazo para tentar novamente é um pouco maior, de quatro a seis meses.

Lembre-se: a curetagem é uma forma de ajudar a retirar os resíduos do útero, e deve ser encarada com naturalidade. Porém, não deixa de ser um procedimento invasivo e o repouso pós curetagem uterina deve ser feito com rigor. Neste período ainda existem feridinhas no útero, e é preciso esperar que elas cicatrizem corretamente.

Nota da autora

No ano 2000 tive um aborto às 11 semanas de gravidez, e foi preciso uma curetagem uterina para retirada dos restos da gestação que havia parado de evoluir. Foi um momento muito triste, mas apesar de tudo eu sabia que era preciso. Ao chegar ao hospital fizeram um ultrassom que detectou que ainda havia muitas coisas dentro do meu útero, inclusive o feto já com mais de 8cm e sem batimentos cardíacos.

Foi estranho entrar naquele centro cirúrgico, mas no final eu não vi quase nada. A anestesia foi local e me sedaram para o procedimento acontecer. Não tive dor durante ou após, e não sangrei por muito tempo após a realização do procedimento. Mas a marca do acontecimento ficou lá para sempre. Sempre me lembrarei desse momento difícil na minha vida.

Dúvidas das leitoras:

O procedimento da curetagem doí?

O procedimento de curetagem é totalmente indolor, já que é dado sedativo. Na maioria dos casos, a anestesia aplicada é a raquidiana. O médico é quem indicará a forma anestésica ideal para o caso durante a consulta.

Preciso levar itens pessoais para depois do procedimento de curetagem?

Como normalmente é solicitada a internação após o procedimento, é indicado levar itens como pijama ou camisola. Também é recomendado levar itens de higiene íntima, como absorvente íntimo, calcinha, escova de dente, escova de cabelo, etc. Normalmente a internação é de somente um dia para observar o sangramento e recuperação da mulher.

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